No trabalho, é você ou um personagem?

Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus. Usando como inspiração este verso das Bem-aventuranças, o famoso e lindíssimo Sermão da Montanha, podemos discernir adiante sobre propósitos de liderança.

Claro que não está aqui nenhum julgamento religioso ou simples defesa cristã, até porque já usei este espaço com exemplos de admiração de diversos líderes e extratos de várias outras religiões. Obviamente que Jesus Cristo foi um líder inconteste e este trecho em particular vale demais para a gestão e a liderança, particularmente para a gestão da diversidade.

No sentido bíblico, de acordo com Emmet Fox, “coração” costuma querer dizer a parte da mente do homem a que a psicologia moderna dá o nome de “subconsciente”. Assim podemos entender que “como o homem pensa em seu coração, assim é ele”.

Muito bem, agora pula o filme e vamos para nossa vida no trabalho. Quando você entra no escritório, ou no Zoom, para ser mais ligado no momento, quem é que está lá? Você e uns outros colegas, ou um ator e outros personagens?

Em outras palavras, a sua relação com o trabalho, com seus colegas, com seu gestor, é verdadeira? Você consegue ser autêntico e, por exemplo, se mostrar falível? Tenha calma, falível todos somos, a questão é se podemos assumir que somos.

Agora você é um líder, então responda usando o mesmo raciocínio. É possível ser um líder falível ou você é o super-homem e está sempre certo, nunca admitindo que pode errar e aprender com sua turma?

Sejamos pragmáticos, eu sei que muitas vezes a empresa quer um ator, um personagem ideal, e aí precisamos desenvolver tal habilidade, mesmo contra a nossa autenticidade e infelizmente questionando nossos valores. Afinal o pão nosso de cada dia não anda caindo do céu.

Mas quanto tempo demora para que essa impureza no coração nos traga um dano sério a saúde? Se você quer entrar para o reino dos céus, nesta vida, comece a considerar que seus valores e habilidades casam com algum lugar, que algum propósito casa com quem realmente você é.

“A primeira coisa a fazer seguramente é se conhecer. Deixe todos os preconceitos de lado, encare você mesmo e busque ajuda”

Há salvação e fórmulas para isso. A primeira coisa a fazer seguramente é se conhecer. Deixe todos os preconceitos de lado, encare você mesmo e busque ajuda. Amigos de verdade, terapeutas, coaches, mentores são sempre recomendados. Meditação, yoga, rituais, orações, descarrego, enfim, se for para ter o coração puro, busque o que melhor te motiva. Se você não conhecer o seu eu mais verdadeiro, como é que vai melhorar a sua atuação?

Agora para os líderes. A pureza de coração está em realmente incentivar o outro a mostrar as suas verdades e aceitá-las, não como permanentes ou indiferentes, mas como mutantes e evolutivas. É sua obrigação incentivar o verdadeiro e respeitar a autenticidade.

Não existe o melhor jeito de ser, existe o jeito de ser que combina melhor com alguém, portanto busque e ajude a encontrar a pureza do coração de cada um. Incluindo a sua, “oh grande líder da tribo”.

Acredite, Tom Hanks não ganharia um Oscar nos negócios. E se você tem as habilidades dele, está deixando de ganhar muito dinheiro e fama, atuando onde a plateia não valoriza sua capacidade de interpretar.

Mas bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus. Claro que queremos ver a Deus. Ora todo mundo sabe que Deus não tem forma conhecida, mas tenhamos fé. Se Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, para buscar mais uma argumentação bíblica, olha para os seus colegas. Há muitas deidades no seu trabalho, então desafie as pessoas para a verdade e encare o compromisso de não ameaçar a autenticidade.

Diversidade de verdade começa pelo pensar. Tá tudo no provérbio 4:23. Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.

*Leonel Andrade é CEO da CVC Corp e foi CEO da Smiles, Credicard e Losango Financeira. Ele também é membro do Conselho de Administração da BR Distribuidora e da Lojas Marisa. Além disso, faz palestras sobre gestão de pessoas e negócios.

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